Hoje lembrei-me de duas coisas que li há bastante tempo, e que até hoje representam a base de muito o que penso e no que me baseio para avaliar os fatos pelo que passo no dia a dia.
Uma delas foi uma observação de Kaanda Ananda, sobre a verdade: Imagine a verdade como um diamante muito raro, único, mas de um tamanho excepcionalmente grande, quase imensurável, localizado em um local de difícil acesso para uns, mas para o qual outros conseguem alcançar utilizando diversos atalhos. Devido ao tamanho desse diamante, e pelo fato dele ser extremamente bem lapidado e apresentar diversas faces, ninguém é capaz de visualizá-lo como um todo, somente algumas partes. E, dependendo do local que vc se posiciona em relação a ele, vc vai poder enxergar somente algumas partes, e também dependendo do seu tamanho e do seu alcance de vista (se vc usa um binóculo, uma luneta, um telescópio, óculos, ou nenhum acessório), a visão que vc vai ter dele será maior ou menor. Em outras palavras, a forma como vc vai visualizar essa verdade será sempre diferente da forma como outra pessoa a vê também, e todos estarão encarando a mesma verdade.
Na mesma linha, a citação de Jihad Krishnamurti é bastante oportuna: “There´s no path to truth!”. Não há caminho para a verdade! Não existe nenhum caminho pré-moldado, ou pré-concebido, para se chegar à verdade. Cada um faz o seu, cada um determina por onde andar, como andar, o ritmo de sua caminhada, as ferramentas empregadas. E o grande diferencial é que o objetivo alvejado no final da sua caminhada é produto desta mesma, ou seja, o que vc vai encontrar no fim de seu caminho é conseqüência de tudo que acontece durante o período em que vc estava caminhando. A busca é tão ou mais importante do que a chegada final. Devido a isso, utilizar caminhos pré-formados, ou anteriormente feitos por outras pessoas, é ir em direção a um vazio, porque os ganhos finais já foram alcançados por outrem.
O que toda essa falácia significa? Primeiramente, que temos de respeitar as diferenças, pois elas são parte da trajetória de cada um. A descoberta da verdade é individual, e o modo de encará-la mais ainda. Nenhuma verdade é errônea, nenhuma verdade é deturpada, e muito menos inferior ou superior. São apenas visões diferentes de um mesmo diamante.
E, num segundo momento, temos a responsabilidade e o dever de pensar em cima de tudo que sentimos, vemos, aprendemos, de raciocinar sobre o que nos é apresentado, e de, a partir do nosso aprendizado, formular a nossa própria visão, a nossa própria verdade. Como também disse Krishnamurti: “Duvide do que eu falo, coloque em xeque o que eu penso, não aceite tudo que eu digo!”. Infelizmente o que mais vemos atualmente é uma preguiça generalizada no que tange raciocinar, pensar, formular raciocínios próprios, verdades individuais. Prefere-se aceitar como verdade única e universal o que está escrito em livros considerados infalíveis e portadores de “toda a verdade”, ou mesmo seguir mestres, gurus e líderes, sem a coragem ao menos de duvidar, ou de formular um pensamento próprio em cima do que foi lido ou ouvido. Ao optar por essa maneira de viver, a pessoa acaba por ignorar que ela está alienando alguns de seus bens mais preciosos, a liberdade de pensamento e o livre arbítrio.
Inconscientemente, muitos já fazem isso. Quantos dizem ser seguidores de determinadas religiões ou seitas, mas no cotidiano empregam determinadas ações e alguns pensamentos que são potencialmente antagônicos ao que preconiza sua filosofia religiosa? Quem tem a tranqüilidade de consciência de dizer que realmente segue e aplica na sua vida TUDO que é dito em seu templo religioso ou nos livros que são a base de sua crença, sem nem ao menos optar por diferentes concepções?
Bater no peito e dizer “MINHA RELIGIÃO É A CERTA”, “EU SOU SEGUIDOR DA ÚNICA VERDADE”, “VC ACREDITA NO QUE NÃO É CORRETO” é uma falta grave ao respeito pelo próximo, além de uma demagogia terrível, pois nem mesmo aqueles que se dispõem a essa cena conseguem aplicar em sua vida tudo que lhe é dito por suas próprias lideranças. E muitos dos conflitos, porque não dizer a maioria deles, que visualizamos no mundo antigo e moderno, têm como base essa prepotência e essa falta de respeito. Quem sabe quando aprendermos a respeitar os outros, e incluindo nesse respeito a compreensão de que cada pessoa que nos cerca é uma individualidade e, como tal, uma expressão de pensamento, e de que não somos nem superiores e nem inferiores, apenas diferentes (e ao mesmo tempo iguais na luta pela busca), poderemos realmente operar dentro de um micromundo para poder fazer um macromundo melhor?
Vida Longa e Próspera!
Um comentário:
adorei a analogia da verdade ao diamante e suas facetas.
abraço
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