quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sobre a dor



Dor dilacera, é um adjetivo comumente associado a ela. Dilacera, porque faz com que você perca o rumo, perca a capacidade de pensar, de agir. Consome, porque pouco a pouco vai chegando a partes do corpo e da consciência que muitas das vezes você nunca imaginou existirem. Alucina, porque os pensamentos saem ar, não encontram ordem, sentido e nem começo ou fim.

Fim da dor? Início dela? Difícil estabelecer. Se fosse fácil, de repente também seria fácil extinguir ou prevenir. Mas não é. Dor é feita de matéria dos sonhos perdidos, dos amores rompidos, das esperanças esquartejadas, uma matéria de tão difícil definição, sem forma, odor ou cor, que quando se aproxima é praticamente impossível estabelecer, Mas quando vem, penetra fundo em todos os pontos do ser, indo contra mesmo até o princípio de que dois corpos não ocupam o mesmo local no espaço.

Não é por acaso, é com origem e destino definidos. Mas os mesmos podem ser involuntários, culposos ou dolosos. Mas exalam a matéria da dor de forma ininterrupta. E sabem para aonde exalar, mas não sabem quando parar.

Dor...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Insustentável Instabilidade do Ser

Os atos distanciam-se cada vez mais dos objetivos, como se fossem duas entidades díspares, independentes, que não se complementam e seguem caminhos distintos. A urgência do experimentar, e a busca incessante do que se julga como melhor e mais adequado faz das pessoas cegas ás situações e àqueles que a cercam em determinado momento.

Um mundo inteiro invade cada residência em um instante. Junto com esse mundo, vêm milhares de pessoas que oferecem um caleidoscópio de opções e de vivências. No afã do querer e da busca, cada uma afigura-se como um depositório de expectativas e de tentativas. E para o instável, para o precipitado, para o superficial, cada um é possibilidade e ao mesmo tempo instrumento de manipulação egoísta das vontades mais do que próprias.

A vontade do experimentar e da realização (sempre inatingível) tornam os caminhantes frívolos e superficiais, com um caminho beirando a mediocridade. Tudo ao mesmo tempo agora, todos e nenhum ao mesmo tempo, conclusões precipitadas por aparências. Sim, o império das aparências, das superficialidades, das futilidades e das vivências ocas e sem rendimentos significativos para a evolução do ser.

A ditadura das aparências e das correspondências às exigências sociais aumenta o grau de exigência. Como todos são yng e yang, todos têm lados diferentes mesclados dentro do total chamado personalidade, invariavelmente algo sempre não corresponde ao que é definido como agradável. E com isso caminha-se, caminha-se, tenta-se, tenta-se, e o caminho é em círculos, não tem ponto de partida e nem de chegada, e a bússola que indicaria o norte está embaçada pelas frivolidades e pelo imediatismo.

Muitos são “amigos”, muitos são “bacanas”, “legais”, “divertidos”, mas na maioria das vezes esse julgamento está baseado apenas em frases soltas e desconexas que seguem um padrão de “lugar-comum”, ou como qualquer prestidigitador de esquina metido a sábio e guru faz habilmente, apenas dizem coisas que sabe-se que o outro lado espera ouvir, e muitas das vezes funcionam como “flanelas do ego”, pois a vaidade (claro, prima próxima daqueles que vivem de aparências) é sempre a melhor característica a ser alimentada naquele que se espera seduzir.

No campeonato do peso dos egos, tudo vale, vale tudo. Reconhecem-se essas entidades pela capacidade espontânea de colocar em qualquer conversação elementos que o clube dos vaidosos considera como fundamentais e essenciais em um possível membro. Tolas criaturas, aqueles que realmente pertencem a uma privilegiada elite sócio-cultural não costumam propagar seus feitos, viagens e benesses, pois tudo isso assume um perfil tão rotineiro, comum e pequeno dentro de um somatório de vivências determinadoras de suas personalidades que propagar aos quatro ventos essas particularidades se torna apenas exibição gratuita e dispensável.

Pobres criaturas, frívolas, superficiais, fúteis e vazias, são prisioneiras de um círculo vicioso aonde cada dia é somente um a mais para voltar ao objetivo do dia seguinte, e para retro-alimentar suas vaidades, Narciso esquece o mundo em volta para se olhar eternamente no espelho, e tudo que importa é o seu reflexo, ou o que ele consegue ver em si mesmo, ou melhor, o que ele QUER ver em si mesmo. Dorian Grey vive de alimentar seu ego, vive de usar suas conquistas como forma de se convencer de sua beleza e superioridade e as enaltecer continuamente, mas ao se deparar a sua verdadeira face e o que o tempo causou nele, toda sua pompa é destruída.

Mais uma vez pobres criaturas, pois vivem em um muno de fadas aonde tudo é belo, perfeito, tudo tem que corresponder ao que QUEREM, QUANDO quere, COMO querem, e ai daqueles que ousarem desviar um mínimo naco que seja daquilo que elas pretendem, esses serão atacados e julgados sumariamente. Com certeza, em momentos de adversidade, quando as situações que rodeiam esses entes “superiores” não corresponderem às suas expectativas, o despreparo para enfrentar os problemas e as conseqüências de seus atos se expressará em desespero, inconseqüência e desorientação.

Alertas do Basileu.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Manifesto contra o politicamente correto


Vivemos numa sociedade que cada vez mais precisa de regulamentações. As diversas facetas que compõem nossa vivência estão se tornando cada vez mais diversificadas, plurais, e cheias de reentrâncias e detalhes. Isso acarreta, principalmente para aqueles que precisam de uma visão prévia ou mesmo um “manual de instruções” para lidar com as situações, que se listem as atitudes e caminhos a serem seguidos.

Nesse contexto entra o que se define como “politicamente correto” – um guia de atitudes, ações e pensamentos que devem ser levados em consideração na vida cotidiana, principalmente no que tange aos relacionamentos humanos. Palavras que devem ser seguidas, atitudes e reações a serem tomadas, e por aí vai. Não existe um guia escrito na verdadeira acepção da palavra, e isso está se tornando tão enraizado na sociedade moderna que muitas das vezes as pessoas acabam sendo “politicamente corretas” mesmo sem saber.

E isso me incomoda, E MUITO! Primeiramente, porque é um mecanismo de perda de individualidade. No momento em que a pessoa renuncia à sua liberdade de pensamento, de julgamento e de ações em prol de algo que ela, ou a sociedade em volta (ou o senso comum) julgam ou determinam como correto. Daí, como o músculo não utilizado que atrofia, também a capacidade de pensar, de analisar as situações e de tomar decisões se atrofia, já que não é necessário realizar todo esse processo, pois todo um contexto externo à pessoa já fez isso por ela. Como resultado, temos a mediocridade, a imbecilidade e a as mentes limitadas, acomodadas, preguiçosas, e também transtornos psicológicos diversos, decorrentes da falta de habilidade das pessoas em lidar com situações as quais ela não teve “preparo” para analisar e resolver.

Segundo, e talvez o mais sério ainda, é a enorme quantidade de hipocrisia e demagogia que o politicamente correto vem gerando. Explico-me melhor: as pessoas querem aparentar serem politicamente corretas, e também manter as aparências quanto aos seus objetivos e perspectivas, mas na realidade, na verdade, estão longe de serem da forma como a sociedade impõe que devem ser. Exemplifico: cansei de ver pessoas baterem no peito e dizerem que procuram por relacionamento sério, que querem algo estável e ecoam isso pelos quatro cantos, mas as atitudes cotidianas dessas mesmas pessoas e suas atitudes são o extremo oposto, caem e com gosto na “putaria”, na causalidade e na “busca” desenfreada e frenética. Outro exemplo: quantos se dizem avessos aos preconceitos em geral, porque ser PRECONCEITUOSO é ser politicamente incorreto, é claro, mas frequentemente assumem posições, palavreados e pequenas posições que refletem indubitavelmente diversos “pré-conceitos”.

E isso gera conflito de personalidade, falta de autoconhecimento e de auto-aceitação, pois quando as pessoas caem em si e são defrontadas com suas próprias contradições, entre o que sai da boca, o que se espera dessa pessoa (e o que ela mesma espera de si), e o que se concretiza como realidade através de seus atos, todo um castelo de cartas vai ao chão. Entra em cena então a pré-citada demagogia, e o que mais comumente se afigura é que a pessoa tenta ao máximo esconder para debaixo do tapete tudo aquilo que ela mesma fez que vai contra ao que é politicamente correto, e ao que ela mesma apregoa. Podem ter certeza que mais da metade do que as pessoas acusam como sendo “fofocas”, “intrigas da oposição”, “buchichos” são coisas que ela tenta ao máximo ocultar, mas que, como tudo que existe, invariavelmente se tornam públicas e evidentes.

Em minha opinião, o caminho da evolução e do aperfeiçoamento envolve a plena aceitação da nossa personalidade, das nossas qualidades e principalmente defeitos, pois quando se assume esses defeitos, torna-se muito mais fácil analisar quando eles aparecem, de que forma e como se expressam, e então, para uma mente ordenada e equilibrada, torna-se também muito mais fácil burilar esses defeitos para que essas facetas da personalidade sejam manifestadas de uma forma muito mais branda ou lapidada.

A liberdade de pensamento, de opinião, o livre arbítrio, a capacidade de orquestrar através da plena observação das situações as próprias verdades e diretrizes são, para mim, características fundamentais de pessoas tidas como inteligentes e perspicazes. E todos somos capazes de alcançar esse grau de inteligência através da calma, da paciência, do foco de objetivos e perspectivas e da manifestação real de nossas vontades.

Abraços do Basileu.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Considerações sobre a união homoafetiva estável

Com o recente julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre a União Estável Homoafetiva, muitas coisas foram discutidas e colocadas, mas percebi uma fala do Ministro Lewandovski que me chamou a atenção: "Creio que se está diante de outra entidade familiar distinta da que se caracteriza as uniões estáveis heterossexuais"

Lewandovski disse algo que é muito parecido com o que venho pensando há muito tempo sobre essa questão. Não se pode julgar ou esperar de uma relação homossexual que ela siga os mesmos preceitos de uma relação heterossexual; acho que um relacionamento homossexual, um relacionamento de dois homens ou duas mulheres, é um relacionamento que tem características diferentes de um relacionamento heterossexual, pois são duas entidades de um mesmo sexo juntas. Homens são de Marte, mulheres de Vênus, então o mundo que essas pessoas constroem é um mundo baseado na visão ou no jeito de lidar com as coisas de somente um dos sexos, e dessa forma não deve ser encarado ipsi litteris como um relacionamento heterossexual.

Não que seja errado, ou que seja algo que não deva acontecer, ou que seja algo fora do comum, nada disso, apenas é diferente, tem características diferentes. (Quando eu começo a falar isso, sempre tem alguém me acusando de ser contra, de ser preconceituoso... parece quando se critica as ações de Israel, e alguém já te acusa de anti-semita). Isso incute que, dentro de uma rotina do relacionamento, ou seja dentro de casa, quando se pensa em construir algo, fazer algo, montar um relacionamento, não se deve levar em consideração os relacionamentos heterossexuais como parâmetro.

Seria algo como o Salgueiro, nem melhor e nem pior, apenas diferente, e os conceitos devem ser desenvolvidos levando em consideração essa diferença.

As próprias dificuldades enfrentadas no dia a dia pelos homossexuais, inseridas aí as questões de segregação e preconceito, acabam exigindo uma boa dose de foco, de centralização em objetivos e diretrizes determinadas em comum. Dentro dessa perspectiva, os desafios e os problemas rotineiros se tornam as vezes mais comuns e maiores, e por isso, repito, relacionamentos homossexuais exigem das duas partes muita certeza do que se quer, do que se objetiva, do que se almeja, definição clara de metas e perspectivas, e a plena realização dessas metas através de atos, palavras e pensamentos.

Talvez pelo fato relatado acima, é tão difícil ver uma união homoafetiva realmente estável. Elas existem, claro, existem sim, há exemplos, mas são minoria dentro de um número total. Talvez o que aconteça seja mais ou menos o seguinte: quando soltamos um pássaro enjaulado, é comum ele voar, voar, até ficar cansado (ou mesmo morrer de estafa), e hoje em dia, com a mudança dos pensamentos e das concepções da sociedade acerca do homossexualismo, a liberdade crescente de relacionamentos, vivências, encontros, e por aí vai, fica cada vez maior, ou seja, há mais possibilidades; daí, muitos confundem a liberdade com a libertinagem (palavrinha pesada, mas não resisti usá-la!), e perdem seu foco, não traduzem em seus atos o que de repente querem em seus pensamentos (ou não querem mesmo, mas dizem que querem para serem “politicamente corretos”).

Existe no meio homossexual então a tendência a experimentar, a provar, a cada vez mais procurar, sendo isso também um reflexo da nossa sociedade consumista e de certa forma elitista procurar sempre o melhor, o mais, o artigo da moda. Hoje em dia temos o mundo dentro de nossa casa com a internet, e também existe uma possibilidade muito maior das pessoas se conhecerem, até a mobilidade da população é maior. Procura-se sempre, a busca é constante, e nunca se chega numa plena realização dessa busca, pois sempre “pode aparecer algo melhor”. Aí, sem seriedade, foco, maturidade, firmeza de pensamento e ações, fica difícil construir uma relação ESTÁVEL.

O politicamente correto hoje em dia é pensar em igualdade, falar de igualdade, mas meu pensamento não é esse; não vejo a igualdade, mas eu vejo a construção paulatina de uma nova realidade; é pensar no novo, é pensar que é o encontro não de uma mulher com um homem, mas de dois homens ou de duas mulheres, e que dentro disso o relacionamento em si pode ter características e deve ser construído de modo a levar isso em consideração, que são duas entidades de um mesmo sexo num mesmo momento juntas. Para quem acha que estou sendo precipitado ou exagerado a pensa nisso, devo lembrar que psicologicamente homens e mulheres são entidades que se comportam e reagem a estímulos do meio de forma diferente. Por exemplo, o poder do homem acaba no falo, e o da mulher vai além dele... a valorização do elemento, da forma, do concreto, do abstrato, a escolha pelo caminho do sentimento ou da razão são diferentes.

Em nenhum momento disse que existe problema, nem disse que era algo que não deveria ser permitido; penso apenas que relacionamento homoafetivo é algo que tem características em si que deve ser pensado de forma diferente, deve ser construído de forma diferente, é um aprendizado, é a busca de uma forma, de caminhos e de opções. É a construção de uma verdade A DOIS, de um caminho a dois. Ainda não existe modelo definido, apenas “insights”, dicas de como e para aonde caminhar. Muitos diriam que é complicado, mas eu tenho certa ojeriza de quando se diz que algo é complicado. Reparem quando se discute algo, e alguém diz “É complicado”, a conversa termina, parece que pelo fato de algo ser complicado não deve nem se pensar nisso e nem discutir isso, deve-se deixar acontecer... não, é realmente complicado, mas deve ser desvendado, aprendido, exige força, determinação, para ser construído. É uma expressão pura da evolução e do caminho de vida a qual todos estamos sujeitos.

Abraços fraternais.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A inércia e o torpor da culpa


A crescente qualificação que nos é exigida no mundo atual nos faz pessoas extremamente criteriosas, com cobranças constantes na vida profissional. A concorrência é grande, cada passo em falso pode representar o fim de uma carreira, ou mesmo o fim de um comodismo; então continuamente, para aqueles que possuem compromisso e responsabilidade, vigiamos nossos passos, atitudes, falas, pensamentos, para que possamos estar sempre de acordo com tudo aquilo que se espera de nós.

Ao mesmo tempo, isso acaba se refletindo na vida pessoal e sentimental. Cada momento de nossa vida privada é regido por passos muitas vezes calculados (ou não), os quais são dados para se estar de acordo com uma vontade ou verdades impostas pelas pessoas que nos cercam. E aqueles que procuram (sinceramente) o aperfeiçoamento constante e a melhora sempre acabam dando o máximo de si para que tudo saia de acordo com um modelo de perfeição.

E quando as coisas não saem de acordo com esse modelo pré-imposto de perfeição, todos aqueles que estão comprometidos com essa exigência constante acabam por se sentirem mal, fracassados, e no final das contas, se culpando pelas adversidades. E aí que entra a palavra chave desse post, a CULPA.

Já dizia o filósofo oriental que somos responsáveis diretos pela nossa felicidade e por grande parte dos acontecimentos que nos envolvem diretamente. Sim ele tem razão nisso, pelo menos em minha opinião. Em muitos momentos, podemos causar a temperança, ou até mesmo a fúria, e o grande mistério da vida reside na reação que pode ocorrer de nossos atos. Por mais que calculados, sempre há o fator da imprevisibilidade.

Daí a conseqüência desse quadro é que muitos cultivam o medo, o receio de tentar, de agir, de arriscar. E esse medo é originário muitas vezes da incerteza de saber se poderia arcar com a responsabilidade dos atos. E conseqüentemente com a culpa que isso pode acarretar.

Culpa é algo humano, é algo que sentiremos independente do quanto estejamos preparados para as conseqüências. E é um sentimento próprio daqueles que são responsáveis, que cultivam o compromisso e que realmente estão “fazendo o momento”. Mas se torna algo extremamente deletério quando se estende por um tempo muito longo, pois acarreta um estado de torpor, no qual o culpado se torna cego para qualquer tipo de reação que se possa tomar para poder reverter uma situação. Essa culpa se torna uma redoma, que envolve e faz com que os contatos com o mundo real sejam limitados, e dessa forma limita também os sentimentos que deveriam ser despertados pelos acontecimentos em volta.

A culpa limita a liberdade de pensamento, cerceia o livre-arbítrio e a capacidade de assumir atitudes práticas e expor sentimentos e anseios. Age profundamente no ser humano, jogando-o em um turbilhão de (re)sentimentos, tornado-o mais vulnerável a ser manipulado, a ser dirigido por forças estranhas à sua verdade e vontade. Ela esconde o “ser” e coloca o indivíduo em um “estar” inibido, tímido, limitado, trôpego e ocioso. A culpa é prima próxima da incapacidade de reação e de ação, do imobilismo, do comodismo.

E por que xingar a culpa dessa forma? Por que expor esse sentimento de forma tão detalhada e cheia de adjetivos? Para que possamos reconhecer QUANDO nos afundamos nesse sentimento. Para reconhecer quando nos tomamos vítima desse desgaste, e seu prisioneiro. Para que possamos distinguir o quanto é deletério viver se culpando das situações que nos cercam e se atolar nessa areia movediça.

E, na minha opinião, há sim maneiras e formas de não atolar o pé nessa jaca. Como disse antes, sentir a culpa é humano, é normal, o ruim é se afogar nela. Para evitar isso, creio eu que é fundamental antes de qualquer coisa procurar ambientes, lugares que transmitam paz, serenidade, lugares no qual se esteja ausente de qualquer interferência que possa prejudicar a fluência normal dos pensamentos e da razoabilidade. E nesse lugar, aonde se pode sentir como um pedaço, um componente desse ambiente como um todo, pode-se consultar os alfarrábios da memória, e da pessoa razão que existe dentro de todos nós, com a finalidade de avaliar melhor a realidade, os atos realizados e suas conseqüências, e as formas possíveis de reerguer aquilo que foi derrubado. Não de remediar, não de continuar batendo na mesma tecla, não de manter as mesmas atitudes e reações, mas sim de tomar novas atitudes, que muitas das vezes podem ser muito parecidas com as antigas, mas que são caracterizadas por pormenores e pequenas mudanças na forma e na apresentação. E essas mudanças, que sempre têm de ser sutis, lentas e tímidas na aparência, mas vigorosas em sua intensidade e duração, podem então ser uma expressão de atitudes práticas, de EVOLUÇÃO.

A dúvida pode ter um aspecto e uma fama ruim, mas ela é primordial, pois desencadeia um processo no qual podemos questionar a realidade, desencadeia a busca de respostas, desencadeia o trilhar de caminhos de autoconhecimento e de reconhecimento do que nos cerca. E muitas das vezes não encontramos as respostas, mas nos enriquecemos com a busca, e dessa forma paulatinamente evoluímos. E as respostas aparecem, nem sempre como uma verdade final, mas como um novo olhar da realidade que já há muito existia.

A culpa fica pelo caminho, deixada para trás, quando tomamos atitudes práticas que representam o quanto aprendemos com a situação que causamos, ou que muitas das vezes achamos que causamos. Do momento em que as situações adversas representam uma aprendizagem e resultam em uma melhora do nosso ser, a culpa cai por terra, porque não haverá mais sentido em possuí-la, já que poderemos enxergar que no fim das contas aquele “probleminha” foi útil no sentido de que nos auxiliou a sermos pessoas melhores, com um entendimento melhor da realidade, dos nossos próprios limites e capacidades.

Cara amiga que a tantos ensina o modo correto de falar e de escutar (queria tanto dominar tais artes...), espero que você possa enxergar que seus limites são muito maiores do que a cerca que você colocou em torno de você, que a culpa que você sente está deixando você em um estado de torpor que somente vai retardar e impedir que você possa tirar as verdadeiras lições dos acontecimentos, que vai limitar a forma como você sente o ambiente em que vive. Assuma atitudes pequenas, sutis, leves, discretas em sua intensidade, mas que somadas uma a uma representem uma reviravolta de longo prazo nas adversidades.

Saudações do Basileu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Na verdade nada esconde essa minha timidez...


As palavras faladas não são o meu forte. Acho que uma certa timidez me impede de expressar tudo aquilo que eu gostaria utilizando a forma falada, por isso muitas vezes utilizo o meio escrito. É até mais fácil, porque ao escrever pode-se pesar o que se vai dizer, e pensar nas palavras a serem utilizadas. Como bem diria a Bethânia: "eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser, e de dizer...”

Acredito piamente que o que mais importa É COMO SE DIZ ALGO, e não O QUE SE DIZ em si. Sabendo-se pesar e usar as palavras, você pode até convencer um FDP que ele é realmente um FDP. E muito mais do que as palavras, a entonação em si pode também expressar muito. Meus animais sempre me obedeceram muito mais por uma entonação daquilo que eu falo para eles, do que propriamente pelas palavras ditas em si. Não que eu esteja chamando as pessoas de animais ou irracionais, mas a palavra falada tem a vantagem da entonação, que pode ser sarcástica, engraçada, séria...enfim, carregar aquilo que se sente ao se dizer determinada coisa.

Talvez essa pequena introdução seja até uma enrolação... para tentar chegar no ponto que eu gostaria de chegar. Seria certo ou não expressar e dizer aquilo que se sente? Para muitos, dizer o que realmente se sente é ser sincero, é ser honesto, e não esconder uma situação. Mas o problema reside em como, quando, onde dizer, para não ser mal interpretado, ou para que aquilo que se quer dizer acabe não dando um efeito rebote (feedback negativo ou positivo, meus caros fisiologistas?).

Para outros, não se deve expressar realmente o que se sente, pois pode-se em algum momento parecer piegas, exageradamente sentimental, ou mesmo assustar por aparentar um grau de carência extremo e excessivo. E alguns ainda enfatizam o risco de se abrir demais, de se expor demais. E sempre vem o problema de ser “misunderstood” em algum momento.

Meu maior problema em me expressar, em colocar meus sentimentos, e daí vem também uma causa da timidez à qual eu me referi no início, vem de um histórico de baixa auto-estima, de não acreditar em mim mesmo como alguém que poderia dividir meus sentimentos e momentos, ou mesmo alguém que poderia estar, por diversas variáveis , condenado a uma vida a la Greta Garbo (I want to be alone...). A falta de “self-confidence”. Isso ocasionou que eu apenas começasse a me permitir ser mais emocional, a ter sentimentos um pouco mais profundos, a partir de 22 anos. Antes disso, não acontecia, mas não acontecia creio eu hoje em dia que muito mais por “não me permitir” do que “não acontecia mesmo”. Me achava “undesirable” (essa palavra existe?), ou como diria Morrissey, “Unloveable”.

Não, isso passou, hoje em dia olho para trás e avalio essa fase e sei que ela passou, não vejo mais as coisas com esse tipo de ponto de vista digno de uma música de Edith Piaf. Mas sempre fica uma sobrinha, uma nesga, um resquício, e esses resíduos acabam sempre batendo no fundo da cabeça e suscitando perguntas e questionamentos, tais como: “Isso seria para mim mesmo?”; “Eu seria digno disso?”; “Eu mereceria isso?”; “Tem tanta gente melhor do que eu, com muito mais atributos e qualidades, acho que eu não preencheria todos os requisitos necessários”; e demais coisas que refletem apenas consequências de uma vivência.

Mas isso mudou, aprendi a lidar com esses tipos de pensamentos e de questionamentos. Talvez uma pessoa que me influenciou foi um grande amigo, já falecido, que nas suas palavras simples, sempre traduzia diversas facetas da vida. “Há sempre um chinelo velho para calçar um pé torto”... Saudades da filosofia simples de Polinésio Areas.

Então creio que o caminho que escolhi hoje em dia seja o de externar o que sinto, o que espero, o que pretendo. Talvez algo muito próximo do “se jogar”, ou arriscar, ou não deixar a oportunidade passar. “A deusa da vitória nunca sorri duas vezes para a mesma pessoa”, já dizia um ditador há muito (e graças a Deus) morto. Mas mesmo assim, o sorriso de Nike Victoria deve ser entendido e compreendido de uma forma mais ampla, e as reações a ele da mesma forma. Há de se manter um equilíbrio entre a total entrega e inconseqüência, e a completa ignorância aos fatos em volta. É o caminho mais difícil, saber dosar, saber encontrar a temperança, ou o caminho do meio.

É,talvez seja esse o caminho. Saber externar esses sentimentos, saber colocar eles nas palavras corretas, em um momento exato, dentro do contexto ideal. Não é esconder, não é hipocrisia, não é covardia e nem timidez, é aprender a colocar de forma concreta coisas tão abstratas como o sentimento. Talvez um aprendizado individual, para o qual não há fórmulas, nem um caminho único, apenas uma fora de cada um conseguir compreender o que diz o seu “eu” sentimental e pessoal, para dessa forma conseguir moldá-lo para a forma concreta.

Abraços grandes a todos que amo de todo meu coração!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Amar: do it yourself



Amor, substantivo abstrato. Amar então é fazer algo abstrato, que não tem forma, cor, odor... daí a dificuldade de se definir o que é amar, ou em outras palavras, se determinada pessoa ama ou não outrem.
Mas como eu gosto da praticidade, e de colocar as coisas da forma mais simples e exeqüível possível, penso que algumas atitudes ou situações podem representar o verdadeiro sentido do “amar”:
- Vontade real e legítima de ver alguém;
- Satisfação em ver outra pessoa feliz, e vontade de realizar coisas que façam essa pessoa se sentir bem;
- A rotina que não se vê, que não se sente, que não se apresenta na sua definição clássica, ou seja, a mais detestada... a vivência rotineira que não relembra a rotina...
- Aquela pequena satisfação íntima, às vezes traduzida em um batimento do coração mais acelerado, em um olhar de satisfação, na hora que se revê alguém;
- Vontade de pegar no colo, de amparar, de retirar tudo de ruim que possa acontecer com alguém, em momentos de dificuldades;
- O tempo que não se vê passar quando se está acompanhado;
- O riso fácil, o beijo casual;
- A vontade quase constante de jogar para cima o racional (mas não jogar... sempre equilibrar o racional e o sentimental... fifty to fifty)
- O papo que não acaba, que flui, que não precisa ser alimentado, pois se alimenta espontaneamente;
- A vontade de ficar mais um minutinho que seja na cama, de manhã, ou até mesmo acordar um pouquinho antes, só para desfrutar de pequenos e curtos momentos juntos;

Mas alguns mais pessimistas, ou que se rotulam realistas, podem dizer que esses fatores só acontecem num início de relacionamento. Que, com o tempo, se extinguem e acabam não acontecendo mais. Até pode ser verdade, em muitos casos, quando as preocupações do dia a dia acabam se impondo, quando a o foco dos sentimentos se desviam. Lembrar de todas essas coisas descritas acima, do quanto eram boas, do quanto elas ajudavam a vencer as adversidades cotidianas é algo que pode, e muito, servir de ferramenta para reafirmar e consolidar a vida a dois.

Abraços de um veterinário que gostaria de ver a pureza, a fidelidade, o companheirismo e a inocência de atos dos animais em grande parte dos seres humanos...