sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Insustentável Instabilidade do Ser

Os atos distanciam-se cada vez mais dos objetivos, como se fossem duas entidades díspares, independentes, que não se complementam e seguem caminhos distintos. A urgência do experimentar, e a busca incessante do que se julga como melhor e mais adequado faz das pessoas cegas ás situações e àqueles que a cercam em determinado momento.

Um mundo inteiro invade cada residência em um instante. Junto com esse mundo, vêm milhares de pessoas que oferecem um caleidoscópio de opções e de vivências. No afã do querer e da busca, cada uma afigura-se como um depositório de expectativas e de tentativas. E para o instável, para o precipitado, para o superficial, cada um é possibilidade e ao mesmo tempo instrumento de manipulação egoísta das vontades mais do que próprias.

A vontade do experimentar e da realização (sempre inatingível) tornam os caminhantes frívolos e superficiais, com um caminho beirando a mediocridade. Tudo ao mesmo tempo agora, todos e nenhum ao mesmo tempo, conclusões precipitadas por aparências. Sim, o império das aparências, das superficialidades, das futilidades e das vivências ocas e sem rendimentos significativos para a evolução do ser.

A ditadura das aparências e das correspondências às exigências sociais aumenta o grau de exigência. Como todos são yng e yang, todos têm lados diferentes mesclados dentro do total chamado personalidade, invariavelmente algo sempre não corresponde ao que é definido como agradável. E com isso caminha-se, caminha-se, tenta-se, tenta-se, e o caminho é em círculos, não tem ponto de partida e nem de chegada, e a bússola que indicaria o norte está embaçada pelas frivolidades e pelo imediatismo.

Muitos são “amigos”, muitos são “bacanas”, “legais”, “divertidos”, mas na maioria das vezes esse julgamento está baseado apenas em frases soltas e desconexas que seguem um padrão de “lugar-comum”, ou como qualquer prestidigitador de esquina metido a sábio e guru faz habilmente, apenas dizem coisas que sabe-se que o outro lado espera ouvir, e muitas das vezes funcionam como “flanelas do ego”, pois a vaidade (claro, prima próxima daqueles que vivem de aparências) é sempre a melhor característica a ser alimentada naquele que se espera seduzir.

No campeonato do peso dos egos, tudo vale, vale tudo. Reconhecem-se essas entidades pela capacidade espontânea de colocar em qualquer conversação elementos que o clube dos vaidosos considera como fundamentais e essenciais em um possível membro. Tolas criaturas, aqueles que realmente pertencem a uma privilegiada elite sócio-cultural não costumam propagar seus feitos, viagens e benesses, pois tudo isso assume um perfil tão rotineiro, comum e pequeno dentro de um somatório de vivências determinadoras de suas personalidades que propagar aos quatro ventos essas particularidades se torna apenas exibição gratuita e dispensável.

Pobres criaturas, frívolas, superficiais, fúteis e vazias, são prisioneiras de um círculo vicioso aonde cada dia é somente um a mais para voltar ao objetivo do dia seguinte, e para retro-alimentar suas vaidades, Narciso esquece o mundo em volta para se olhar eternamente no espelho, e tudo que importa é o seu reflexo, ou o que ele consegue ver em si mesmo, ou melhor, o que ele QUER ver em si mesmo. Dorian Grey vive de alimentar seu ego, vive de usar suas conquistas como forma de se convencer de sua beleza e superioridade e as enaltecer continuamente, mas ao se deparar a sua verdadeira face e o que o tempo causou nele, toda sua pompa é destruída.

Mais uma vez pobres criaturas, pois vivem em um muno de fadas aonde tudo é belo, perfeito, tudo tem que corresponder ao que QUEREM, QUANDO quere, COMO querem, e ai daqueles que ousarem desviar um mínimo naco que seja daquilo que elas pretendem, esses serão atacados e julgados sumariamente. Com certeza, em momentos de adversidade, quando as situações que rodeiam esses entes “superiores” não corresponderem às suas expectativas, o despreparo para enfrentar os problemas e as conseqüências de seus atos se expressará em desespero, inconseqüência e desorientação.

Alertas do Basileu.