quinta-feira, 5 de maio de 2011

Considerações sobre a união homoafetiva estável

Com o recente julgamento pelo Supremo Tribunal Federal sobre a União Estável Homoafetiva, muitas coisas foram discutidas e colocadas, mas percebi uma fala do Ministro Lewandovski que me chamou a atenção: "Creio que se está diante de outra entidade familiar distinta da que se caracteriza as uniões estáveis heterossexuais"

Lewandovski disse algo que é muito parecido com o que venho pensando há muito tempo sobre essa questão. Não se pode julgar ou esperar de uma relação homossexual que ela siga os mesmos preceitos de uma relação heterossexual; acho que um relacionamento homossexual, um relacionamento de dois homens ou duas mulheres, é um relacionamento que tem características diferentes de um relacionamento heterossexual, pois são duas entidades de um mesmo sexo juntas. Homens são de Marte, mulheres de Vênus, então o mundo que essas pessoas constroem é um mundo baseado na visão ou no jeito de lidar com as coisas de somente um dos sexos, e dessa forma não deve ser encarado ipsi litteris como um relacionamento heterossexual.

Não que seja errado, ou que seja algo que não deva acontecer, ou que seja algo fora do comum, nada disso, apenas é diferente, tem características diferentes. (Quando eu começo a falar isso, sempre tem alguém me acusando de ser contra, de ser preconceituoso... parece quando se critica as ações de Israel, e alguém já te acusa de anti-semita). Isso incute que, dentro de uma rotina do relacionamento, ou seja dentro de casa, quando se pensa em construir algo, fazer algo, montar um relacionamento, não se deve levar em consideração os relacionamentos heterossexuais como parâmetro.

Seria algo como o Salgueiro, nem melhor e nem pior, apenas diferente, e os conceitos devem ser desenvolvidos levando em consideração essa diferença.

As próprias dificuldades enfrentadas no dia a dia pelos homossexuais, inseridas aí as questões de segregação e preconceito, acabam exigindo uma boa dose de foco, de centralização em objetivos e diretrizes determinadas em comum. Dentro dessa perspectiva, os desafios e os problemas rotineiros se tornam as vezes mais comuns e maiores, e por isso, repito, relacionamentos homossexuais exigem das duas partes muita certeza do que se quer, do que se objetiva, do que se almeja, definição clara de metas e perspectivas, e a plena realização dessas metas através de atos, palavras e pensamentos.

Talvez pelo fato relatado acima, é tão difícil ver uma união homoafetiva realmente estável. Elas existem, claro, existem sim, há exemplos, mas são minoria dentro de um número total. Talvez o que aconteça seja mais ou menos o seguinte: quando soltamos um pássaro enjaulado, é comum ele voar, voar, até ficar cansado (ou mesmo morrer de estafa), e hoje em dia, com a mudança dos pensamentos e das concepções da sociedade acerca do homossexualismo, a liberdade crescente de relacionamentos, vivências, encontros, e por aí vai, fica cada vez maior, ou seja, há mais possibilidades; daí, muitos confundem a liberdade com a libertinagem (palavrinha pesada, mas não resisti usá-la!), e perdem seu foco, não traduzem em seus atos o que de repente querem em seus pensamentos (ou não querem mesmo, mas dizem que querem para serem “politicamente corretos”).

Existe no meio homossexual então a tendência a experimentar, a provar, a cada vez mais procurar, sendo isso também um reflexo da nossa sociedade consumista e de certa forma elitista procurar sempre o melhor, o mais, o artigo da moda. Hoje em dia temos o mundo dentro de nossa casa com a internet, e também existe uma possibilidade muito maior das pessoas se conhecerem, até a mobilidade da população é maior. Procura-se sempre, a busca é constante, e nunca se chega numa plena realização dessa busca, pois sempre “pode aparecer algo melhor”. Aí, sem seriedade, foco, maturidade, firmeza de pensamento e ações, fica difícil construir uma relação ESTÁVEL.

O politicamente correto hoje em dia é pensar em igualdade, falar de igualdade, mas meu pensamento não é esse; não vejo a igualdade, mas eu vejo a construção paulatina de uma nova realidade; é pensar no novo, é pensar que é o encontro não de uma mulher com um homem, mas de dois homens ou de duas mulheres, e que dentro disso o relacionamento em si pode ter características e deve ser construído de modo a levar isso em consideração, que são duas entidades de um mesmo sexo num mesmo momento juntas. Para quem acha que estou sendo precipitado ou exagerado a pensa nisso, devo lembrar que psicologicamente homens e mulheres são entidades que se comportam e reagem a estímulos do meio de forma diferente. Por exemplo, o poder do homem acaba no falo, e o da mulher vai além dele... a valorização do elemento, da forma, do concreto, do abstrato, a escolha pelo caminho do sentimento ou da razão são diferentes.

Em nenhum momento disse que existe problema, nem disse que era algo que não deveria ser permitido; penso apenas que relacionamento homoafetivo é algo que tem características em si que deve ser pensado de forma diferente, deve ser construído de forma diferente, é um aprendizado, é a busca de uma forma, de caminhos e de opções. É a construção de uma verdade A DOIS, de um caminho a dois. Ainda não existe modelo definido, apenas “insights”, dicas de como e para aonde caminhar. Muitos diriam que é complicado, mas eu tenho certa ojeriza de quando se diz que algo é complicado. Reparem quando se discute algo, e alguém diz “É complicado”, a conversa termina, parece que pelo fato de algo ser complicado não deve nem se pensar nisso e nem discutir isso, deve-se deixar acontecer... não, é realmente complicado, mas deve ser desvendado, aprendido, exige força, determinação, para ser construído. É uma expressão pura da evolução e do caminho de vida a qual todos estamos sujeitos.

Abraços fraternais.

2 comentários:

Astria disse...

Creio q o problema maior é o q ocorre diariamente no país e q acabei de conhecer de perto através de mais uma dessas tristes histórias q vou compartilhar aqui, para dar meu ponto de vista sobre o assunto, e q acho q é a principal bandeira de quem defende a união homoafetiva legal e de direito.
Uma amiga minha tem uma irmã lésbica, q depois de anos sem concluir nenhum estudo e nem para em trabalho algum, insatisfeita de tudo, conheceu uma moça mais nova por quem se apaixonou. Em oito anos de relação estável, as duas cresceram pessoalmente juntas, a irmã de minha amiga se formou, se encontrou profissionalmente e afetivamente. Há poucos meses atrás elas compraram seu primeiro apartamento juntas, q elas mobiliaram com todo carinho e mandaram fotos para toda família e amigos e esse foi o símbolo maior dessa união. Há pouco mais de um mês, a irmã dessa minha amiga veio visitá-la e sua companheira ficou por conta de um concurso iria fazer. E ela pouco depois faleceu subitamente, com menos de 35 anos de idade.
Logo após a tragédia, a moça teve q levar o corpo de sua amada para sua terra natal, de carro, durante 15 horas de viagem. E ao voltar para casa delas, encarar o apartamento delas vazio. E como se não bastasse, por não terem nenhum DOCUMENTO dizendo q elas eram um casal de união estável, ela teve q recolher fotos, arquivos de computador, e toda espécie de PROVA de que elas viviam JUNTAS em RELACIONAMENTO ESTÁVEL, para q finalmente ela possa vender tudo o q elas tinham juntas e ela não precisar mais ficar remoendo as saudades de seu amor no local q era para ser das duas...
A morte por si só é muito difícil de ser encarada e o LUTO é duradouro, mais ou menos, dependendo da pessoa. Mas quem está numa situação como essa q eu relatei enfrenta vários outros percalços horríveis, por quem quase ninguém hetero tem q passar.
Por essas e outras tantas histórias tristes, acho q deve-se sim apoiar a causa LEGAL da união estável homoafetiva. Se as pessoas (algumas, diria até poucas) não vão saber o q fazer com essa lei, isso é outro problema. Mas devemos respeitar as escolhas e os amores de cada um, e a dor de cada um tb.
Mas essa é só uma opinião.

Didi disse...

Que tal pensar a diferença dos relacionamentos não por serem homo ou heteroafetivos, mas pela diferença que existem entre as pessoas independentemente dos seus sexos biológicos ou gênero? Não é a única forma de se pensar, mas garanto-lhe que vai te dar muita luz sobre essa questão que você colocou, que me pareceu muito essencialista. Faço esse convite a você e, quem sabe, não te renderá ótimos insights.