quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A aliança (possível) entre o sentimento e a razão


Não te peço que me compreendas. Acredite, sou uma pessoa além da compreensão, não que eu queira me fazer de especial, ou dizer que sou melhor do que os outros, apenas diferente. E pauto minha vida e minhas atitudes pelo inesperado, pelo inusitado. Costumo me divertir com chantagens emocionais e assumir posicionamentos completamente contrários daqueles que as pessoas esperam que eu assuma perante um desafio, ou que queiram induzir me chantageando. A rotina e a monotonia são minhas inimigas mortais, e costumo, por exemplo, trocar meus caminhos de ida e volta ao trabalho apenas para não cair na mesmice. E assumo minha personalidade multifacetada, com reações e posicionamentos que se enquadram a cada situação específica, a cada momento em particular. As moléculas que compõem meu corpo são as mesmas encontradas na natureza, dessa forma posso ser um riacho calmo que inspira e acalma, ou um imprevisível e destruidor maremoto. Portanto, apenas me entenda, não me compreenda. O tempo que vc gastará para tentar me compreender poderia representar um risco de inércia, e com certeza resultaria em um grande disperdício.

Não te peço que me ames. Amor substantivo abstrato, não tem forma, cor, odor, e muito menos pode ser mensurado. Nunca caia na armadilha de dizer que fulano ama mais sicrano do que o sicrano ama fulano, não tem como se medir algo tão abstrato e de definição tão imprecisa. Ou este amor existe ou não faz parte deste relacionamento. E também amar é verbo intransitivo, não precisa de complemento. Tampouco de condições. Algo assim tão difícil de descrever, também torna-se problemático de estabelecer se faz parte do rol pessoal de sentimentos por outrem. Outra perda de tempo é gastar horas e horas fazendo uma auto-análise para tentar definir se está se amando ou não outra pessoa. Para deixar as coisas mais simples, tente sentir e expressar outros substantivos abstratos que são muito mais palpáveis, como respeito, atenção, carinho, dedicação, afeto, honra, verdade, cumplicidade. Quem sabe essas palavrinhas conseguem estabelecer aos poucos e em partes o verdadeiro sentido de amar!

Não te peço que me bajules. Adulação é prima próxima da falsidade, da demagogia, do cinismo e da pobreza de espírito. Tenho qualidades que são dignas de grandes elogios, mas também defeitos à altura da execração. Como toda e qualquer pessoa, sou um amálgama de características, que, dependendo do ponto de vista, podem ser consideradas boas ou más, mas em que em grande parte das vezes transitam na linha tênue que separa esses dois opostos. Apenas reconheças que sou o somatório de todas essas posições antagônicas (ou não), e que é justamente isso que define a minha personalidade. E que, em algumas situações, o meu verdadeiro SER pode ficar mascarado dentro de um ESTAR provisório, fruto de um momento ou mesmo de uma conjunção de fatores, os quais por mais que se esforce acabam por influenciar camadas mais profundas da consciência.

Não te peço performances ou atitudes espetaculares. A busca dessa excelência pode beirar o artificialismo, e dessa forma se expressar de forma vazia e fugaz. Aqueles que dão valor às grandes coisas, ou aos momentos mais marcantes, acabam jogando no lixo tempo de vida precioso a espera desses acontecimentos supranormais, e nunca se satisfazem com o que acabam obtendo, procurando sempre por mais, e mais... Quando aprendemos a dar valor às pequenas coisas, aos ligeiros detalhes, ou mesmo a pormenores que passam despercebidos, conseguimos agregar em nossa vida um maior número de momentos felizes e de paz interior. Um toque macio e suave, um afago inesperado, uma palavra de afeto em um momento inusitado, um olhar que transmite a frase chave “eu me importo com vc”, podem valer muito mais do que uma noite de sexo selvagem e enlouquecido.

Não te exijo riquezas. Dinheiro é algo que realmente não traz felicidade, mas ajuda a manter a preocupação distante. Mas perder a dignidade e a honra por conta de benefícios financeiros traduz uma falta de caráter incomensurável. Porque ao invés de esperar que possas fazer tudo por si só, não preferes construir um caminho a quatro mãos, e dessa forma com maior eficiência e perfeição? Apenas exijo que torne sua vida um campo de perspectivas e planos, e que através destes construa seu futuro, sem se render ao comodismo de uma situação que em muitos momentos pode parecer não confortável. Traduza seus pensamentos em atitudes práticas. Ao invés de reclamar dos problemas, tente dispender tempo procurando as soluções. E sempre que precisar de qualquer coisa que seja, conte comigo, pois na maioria das vezes consigo ser muito mais feliz quando contribuo para a realização da felicidade das pessoas que me rodeiam.

Já que estou tocando nesse tema, não pretendo que sejas a razão de minha felicidade, e muito menos que eu seja a base da tua. Como diria o Sidarta, nunca devemos permitir que a nossa felicidade dependa de outras pessoas, ela deve única e exclusivamente ser construída e alicerçada por nós mesmos, sem ter nenhum pilar içado sobre outras individualidades. Somos completamente responsáveis por tudo que nos acontece, e jogar para cima dos outros a responsabilidade de nossos atos é simplesmente nos tornar cegos para características próprias que devem ser trabalhadas e aprimoradas. Aceitar-se a si mesmo não significa dizer “sou assim mesmo e pronto” (a famosa Síndrome da Gabriela – eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...). Isso vai de encontro a todo e qualquer conceito de evolução e desenvolvimento, os quais acredito sejam as verdadeiras razões de nossa existência. O poder de auto-análise e avaliação, associado com a perspicácia de encontrar maneiras e caminhos para atingir o aprimoramento, são características fundamentais em qualquer um que realmente queira aproveitar cada momento da vida.

Apenas te peço que sejamos como duas massas de modelar, as quais possam se moldar uma a outra, se adequar mutuamente, se encaixarem, sem nunca perder as suas características básicas originais.

6 comentários:

Ernesto Diniz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Sim, vai soar adulador, levemente piegas, quase fora de contexto, maravilhosamente irracional, mas:

Eu me importo com você.

Como teria dito Sidarta: nunca é tarde para que a massa de modelar seja desmanchada e volte em nova forma, em nova cor, com novos sentimentos ao ponto que ela nunca deixou de ser, em essência, em impulso, em vontade, em amor.

Abração!!

Unknown disse...

Se todos os homens pensasse como você . O mudo seria muito mas bonito para conviver..
Belas palavras.... Moacyr Rosssette - Itambaracá - Pr.

Unknown disse...

Belas palavras amei você disse tudo 😍

Andre disse...

Sidarta tem razão: " Não devemos permitir que a nossa felicidade dependa de outras pessoas..."

Unknown disse...

"Apenas te peço que sejamos como duas massas de modelar, as quais possam se moldar uma a outra, se adequar mutuamente, se encaixarem, sem nunca perder as suas características básicas originais."